sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Fui ao mercado comprar uns presentes. Quando vi todas aquelas pessoas, comecei a reclamar comigo mesmo: "Isto vai demorar a vida toda e ainda tenho tantas coisas para fazer e outros lugares para ir.

Como gostava de poder deitar-me, dormir e só acordar após ter passado toda a barafunda. Sem notar, andei até à secção de brinquedos e lá comecei a bisbilhotar os preços e a imaginar se as crianças realmente brincam com esses brinquedos tão caros.

Enquanto olhava a secção de brinquedos, notei um menino de mais ou menos 5 anos a agarrar uma boneca contra o peito. Ele acarinhava o cabelo da boneca e olhava-a tão triste que tentei imaginar para quem seria aquela boneca que tanto apertava.

O menino virou-se para uma senhora junto dele e disse: "Avó, tens a certeza que eu não tenho aqui dinheiro do meu mealheiro para comprar esta boneca?" E a senhora respondeu: “Sabes que o teu dinheiro não é suficiente, meu querido!" E disse para o menino ficar ali só mais um pouquinho a olhar para os brinquedos, enquanto ia ver outras coisas.

O menino continuava a segurar a boneca nas suas mãos e dei por mim a caminhar na sua direcção. Perguntei-lhe a quem queria dar aquela boneca e ele respondeu: "Esta é a boneca que a minha irmã mais adorava. Ela acreditava que o nosso pai lhe daria uma este ano.”

E eu disse-lhe: "Não fiques tão preocupado, acho que ele irá dar a boneca à tua irmã." Mas ele muito triste disse-me: "Não, o meu pai não poderá levar-lhe a boneca onde ela está. Tenho que dar a boneca à minha mãe e ela poderá dar a boneca à minha irmã, quando ela for lá."

Os seus olhos encheram-se de lágrimas enquanto falava e dizia: “A minha irmã teve que ir embora para sempre. O meu pai disse-me que a mãe também irá para perto dela em breve. Então, pensei que a minha mãe poderia levar a boneca e entregá-la à minha irmã"...

O meu coração parou de bater. Aquele menino olhou para mim e continuou dizendo: "Eu disse ao meu pai para dizer à minha mãe para não ir ainda. Pedi-lhe que esperasse até eu voltar do mercado"... Depois, o menino, mostrou-me uma foto muito bonita dele rindo e disse-me: "Eu também quero que a mãe leve esta foto com ela, assim ela não se esquecerá de mim, eu gosto muito da minha mãe e não quero que ela parta agora mas o meu pai disse que ela tem que ir para ficar com a minha irmãzinha" e ficou olhando para a boneca com os olhos tristes e muito quieto.
Eu rapidamente procurei a minha carteira e peguei nalgumas notas e disse para o garoto: "E se contássemos novamente o teu dinheiro, só para termos certeza de que tens dinheiro para comprar a boneca”?

Juntei as minhas notas ao dinheiro dele, sem que ele se apercebesse e começamos a contar. Depois de contarmos o dinheiro, dava para comprar a boneca e ainda sobravam uns trocos. Vi o menino fechar os olhos e orou: "Obrigado, Deus, por atenderes o meu pedido e teres-me dado dinheiro para comprar a boneca"...

Depois, olhou para mim e disse: "Ontem antes de dormir, eu pedi ao senhor Deus que fizesse para que eu tivesse dinheiro para comprar a boneca para a minha irmã e assim a mãe já pode levar com ela. Eu também queria comprar uma flor amarela para dar à minha mãe porque ela gosta muito e vou levar-lhe uma"...

Uns minutos depois, a senhora voltou para buscar o menino e fui-me embora sem ser notado. Terminei as compras num estado de espírito totalmente diferente daquele com que havia começado. Entretanto, não consegui tirar aquele menino do meu pensamento.

Lembrei-me de uma notícia no jornal local, já com dois dias, quando mencionava que um homem bêbado, numa camioneta, bateu num carro onde estavam uma jovem senhora e uma menina. A criança faleceu no local e a mãe estava em estado muito grave no hospital e a família já havia decidido mandar desligar as máquinas porque não havia nada a fazer conforme diziam os médicos.

Pensei se seria a família daquele menino. Dois dias após meu encontro, li no jornal que a jovem senhora havia falecido. Eu não pude conter-me e saí para comprar um ramo de rosas amarelas e fui ao velório daquela jovem .... Ela segurava uma linda flor amarela nas mãos, junto com a fotografia do menino e com a boneca ao peito.

Deixei o local a chorar, senti que a minha vida tinha mudado desde aquele momento. O amor daquele menino pela sua mãe e irmã continua gravado na minha memória até hoje. E tudo porque um condutor embriagado havia de enlutar aquela familia e tirado para sempre a mãe e irmã daquele menino.

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